a manhã chegou com pedras, que caíam desamparadas do céu confuso.
o tempo bipolar;
as nuvens que tanto sorriem como rugem.
eram seis da manhã e já não podia ouvir a respiração imaginária no meu pescoço.
como um toque de piano, os dedos dos pés tremem em câimbra,
em sintonia com o meu coração
que vibra
v
i
b
r
a
assustado com o que poderá vir, com o que poderá ser. descubro-me agora. só agora. amar; amar-ME; amar-me a m i m. [como me amar]
o desejo da minha nudez junto de outra nudez, junto da nudez do céu; numa casa sem tecto, numa casa sem chão. na delicadeza de um momento fraco e suave.
(suavidade)
"vai, meu coração (...) quem semeia vento (...) tempestade"
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20/02/2016
as mulheres também têm musas
mu·sa
substantivo feminino
1. [Mitologia ] Cada uma das deidades que presidiam às ciências, letras e artes liberais, na mitologia grega.
2. [Figurado] Nume, estro; poesia.
"musa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
se as musas são poesia, e se parem elas os poetas; poderei ser eu um poeta que procura uma dona de meus dedos pensantes? caberá no mundo um espaço para uma cadeira onde eu me sente, onde escreva noites a fio sobre esta dose de querer que vem avulso no corpo de outrem?
saber que quero e saber quem - tanto o sol como a tempestade - nos espaços entre a trovoada e a luz nublada dos céus azuis.
penso em cabelos, penso em olhos-quase-negros que tocam no ponto mais branco das açucenas do meu jardim rochoso. será o mal maior das mulheres o de não saber se podem ter musas, se lhes podem tocar?
se podem dançar numa lua solta.
ter um par, ter uma musa...
portanto, se musas são poesia - serão o amor? e o amor, será literatura? e a literatura será desejo? e o desejo, será carne? nunca sei. nunca soube. as mulheres também têm musas. pode ser um canto desesperado de um fado meio esquecido; pode ser o trautear de uma avó desgastada pelo tempo; pode ser o cair das cortinas de um teatro vermelho; uma lágrima que percorre a face e as mamas e o umbigo e os joelhos. uma musa pode ser o bocejar de um gato que descansa de descansar, e uma musa pode ser ele.
e l e
e·le |ê| 1
(latim ille, illa, illud, aquele, aquela, aquilo)
pronome pessoal
Pronome pessoal correspondente à terceira pessoa do singular, usado para designar a pessoa ou aquilo de que se fala (ex.: ele já chegou; o responsável é ele; vou falar com ele).
"ele", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
mas quem me garante que um "ele" é terceira pessoa?
um "ele" sempre foi segunda pessoa. ou primeira. antes de mim, um "ele", antes de "ser" um "é". antes das rosas, os cravos. e antes de "nós", a Liberdade.
e quando vejo o mar a percorrer o mundo e a pintá-lo de azul, ou o campo a pacificar os montes que choram, lembro-me de uma só musa que o saiba apreciar comigo. de um conjunto de frases num papel amachucado que temo em mostrar por nunca saber apresentá-lo.
tenho medo de apresentar-me como a detentora dessa musa que é poesia em pele, porque sei que não sou musa de ninguém.
um homem pode então ser uma musa, se a sua musa for outra. e será, sempre, musa de poemas por ser poema. porque o esconder-se é bonito e o revelar-se mais é.
as tardes mais bonitas são aquelas passadas em frente a uma janela que apresenta à casa um mundo que só é preenchido de for avistado em companhia.
18/02/2016
17/02/2016
lugar
o relógio das nuvens tocou cedo,
quando respirava entre as almofadas, e os aromas
(a cama cheia de chuva)
não consigo deixar-te ir nas ondas do mar do tempo.
as flores pequenas dos campos voam,
em conformidade com a cor do céu.
eu voo também, junto-me à decisão de ser natural,
corto os braços e colo asas e apego-me ao luto das andorinhas...
porque
tudo morre, tudo pode voltar a morrer mesmo depois de morto.
porém, os raios que passam do telhado inexistente
iluminam as premissas de uma vida adormecida,
e ao sarar as linhas de um casulo do qual escorre sangue doce,
danço nos ponteiros desse relógio sem casa.
desvendo um mundo-mistério, desvendo a vida que me dás
que mesmo que não te seja devolvida é usada sem reserva.
encontrei um fugidio lugar,
o meu chão para os meus pés descalços.
quando respirava entre as almofadas, e os aromas
(a cama cheia de chuva)
não consigo deixar-te ir nas ondas do mar do tempo.
as flores pequenas dos campos voam,
em conformidade com a cor do céu.
eu voo também, junto-me à decisão de ser natural,
corto os braços e colo asas e apego-me ao luto das andorinhas...
porque
tudo morre, tudo pode voltar a morrer mesmo depois de morto.
porém, os raios que passam do telhado inexistente
iluminam as premissas de uma vida adormecida,
e ao sarar as linhas de um casulo do qual escorre sangue doce,
danço nos ponteiros desse relógio sem casa.
desvendo um mundo-mistério, desvendo a vida que me dás
que mesmo que não te seja devolvida é usada sem reserva.
encontrei um fugidio lugar,
o meu chão para os meus pés descalços.
05/02/2016
poço
há precisamente duas semanas precisava de me descobrir.
passado esse tempo continuo sem saber quem sou. só sei quando tenho fome ou não (sendo que a segunda opção é a mais comum) e só sei quando quero fugir dos locais populados e quando me sinto bem acompanhada. raramente não fujo. raramente crio laços.
raramente sei sequer como os criar, porque o mundo rodeia-me demasiado frequentemente e num tom demasiado claustrofóbico.
ondas de todas as direcções assaltam-me o corpo.
ondas de todas as direcções assaltam-me o corpo.
já não sei calcular movimentos e, mais grave que isso, não sei sequer mover-me sozinha. fico à espera de um estímulo musical da própria vida, e a eterna espera dessa sensação prende-me num poço com fundo infinito.
03/02/2016
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